Bolsonaro cae o instala una dictadura en este 2020 – Por Ribamar Fonseca
02 enero, 2020
category: FORO DEBATE
Versión original en portugués:
Bolsonaro cai ou instala a ditadura neste ano de 2020 – Por Ribamar Fonseca
“Eu não entendo essa gente: tá nadando em merda e batendo palmas pro Bolsonaro”. A frase foi entreouvida no final de 2019 numa parada de ônibus, onde dois homens conversavam sobre a situação do país, o aumento absurdo do preço da carne bovina, o imposto para desempregados, aumento do desemprego, etc. Havia leve indignação no tom da conversa. Na verdade, essa frase retrata o comportamento de parte da população, que está enfrentando sérias dificuldades, mas ainda acreditando que o capitão é o melhor presidente dos últimos tempos. Segundo as últimas pesquisas do Datafolha 30% acha o governo Bolsonaro ótimo ou bom e 32% regular, o que significa que pelo menos 62% da população está satisfeita com o governo do capitão. Se não são masoquistas certamente são alienados, vivendo fora da realidade, sugestionados talvez pelas notícias da Globo, segundo as quais a economia do país vai muito bem. Ou os irmãos Marinho estão felizes com a agenda neoliberal do ministro Paulo Guedes ou, então, pretendem agradar a Bolsonaro, que declarou guerra contra eles, ameaçando-os, inclusive, de suspender a concessão da televisão. Afinal, o que falta acontecer em 2020 para que haja realmente indignação e ocupação das ruas? O fim do salário mínimo, do bolsa-família e da estabilidade do servidor público ou uma voz de comando na Internet como a do MBL, que arrastou para as ruas milhares de pessoas fantasiadas de amarelo para protestar contra o governo Dilma?
O fato é que se não houver mobilização capaz de despertar o povo do estado de letargia em que se encontra o capitão vai continuar, neste ano de 2020, massacrando-o com a subtração dos seus direitos e conduzindo o país para uma ditadura. Afinal, segundo pesquisa do Datafolha, a democracia está perdendo o apoio da população: de 69% em 2018 caiu para 62% em 2010 e 22% já não se importam se vivemos numa democracia ou numa ditadura. Esse estado de ânimo – ou desânimo – deve acender o sinal de alerta dos democratas, pois se nada for feito a instalação de uma ditadura vai acabar acontecendo como um fato natural, aceito pela maioria sem nenhum gemido. Não custa recordar que no ano recém-findo Bolsonaro lançou vários balões de ensaio sobre a possibilidade de uma ditadura, inclusive acenando com a lembrança do AI-5, o ato institucional que permitiu ao regime militar fechar o Congresso, cassar mandatos, suspender as garantias individuais, etc. Não é segredo para ninguém que ele não consegue digerir as derrotas no Parlamento e muito menos as críticas, o que atiça a sua índole autoritária, revelada nas declarações grosseiras e nos ataques à imprensa. O que provavelmente o obriga a controlar seus impulsos ditatoriais é a falta de apoio da cúpula militar para uma aventura desse tipo, talvez porque hoje os tempos são outros e os golpes ficaram mais sofisticados e sutis com o uso do lawfare.
Na realidade, a mudança dessa situação poderá acontecer mais por despreparo do próprio Bolsonaro, que se tornou o maior adversário deles mesmo, do que pela ação do povo, já que a oposição, afora manifestações isoladas, também tem se revelada apática. Não fora Lula e dir-se-ia que a oposição praticamente não existe, sendo exercida hoje muito mais pelos partidos descontentes do que pela Esquerda. Em menos de um ano de governo, completados no dia primeiro deste mês, Jair Bolsonaro conseguiu a proeza de transformar em inimigos grande parte dos seus aliados, inclusive implodindo o partido que o elegeu, o PSL, hoje parcialmente na oposição. Parlamentares que brigavam por ele, como os deputados Alexandre Frota e Joyce Hasselmann, entre outros, são hoje ferozes adversários que podem oferecer uma enorme contribuição para a sua queda, pois conhecem de perto os seus “podres”. Ele transformou em inimigos até velhos companheiros de farda, que também o ajudaram a eleger-se, foram inicialmente reconhecidos com a nomeação para cargos no governo e depois descartados, como consequência de intrigas fomentadas pelos seus filhos. Esse regime implantado por ele, a “filhocracia”, foi um dos grandes males do seu governo, talvez a causa maior das suas dores de cabeça. Ele pode ser um bom pai, mas errou ao misturar a família com o poder, permitindo que os filhos tivessem mais autoridade do que ministros de Estado, o que provocou o afastamento de aliados leais como Gustavo Bebianno, hoje seu adversário.
Embora venha decepcionando também grande parte dos seus eleitores, cuja debandada já foi registrada pelas pesquisas, pelo menos por enquanto Bolsonaro não deverá preocupar-se com a possibilidade de impeachment, porque o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ao contrário do que fez Eduardo Cunha quando no comando da Casa, procurou tranquilizá-lo prometendo não admitir nenhum dos pedidos já protocolados na secretaria do Parlamento. Isso, porém, não é garantia de que o impedimento não venha a acontecer, porque Maia, hoje uma espécie de primeiro ministro fake, que atribui a si algumas decisões da Casa, pode mudar de ideia a qualquer momento se vislumbrar melhores perspectivas pessoais para o futuro. Ninguém conseguiu ainda descobrir se o seu choro quando fala da aprovação da reforma da Previdência, que tantos males trouxe para o trabalhador, é de felicidade ou de remorso. De qualquer modo, não se deve perder de vista o deputado do DEM, que só tem mais este ano de mandato na presidência das Câmara e que, a julgar por sua pose de presidente, não pretende interromper sua escalada de poder, o que significa que deve continuar sua estratégia política responsável por seu trânsito relativamente livre na oposição e no governo: ora assume uma postura oposicionista e ora governista, como um camaleão que muda de cor de acordo com as conveniências do momento.
Embora ainda exista quem alimente a esperança de que Bolsonaro possa mudar neste ano de 2020, um otimismo exagerado que reflete ingenuidade ou burrice, os realistas acreditam que tudo vai piorar ainda mais. Depois de destruir as conquistas sociais mais importantes do país, de fragilizar e desmontar nossas estatais, de estimular as queimadas na Amazônia, de entregar a base espacial de Alcântara aos americanos e de transformar o Brasil na privada de Donald Trump parece que Bolsonaro não se deterá diante de nada. Nunca o nosso país, em toda a sua história, foi tão humilhado como agora, quando o presidente dos Estados Unidos, depois de obter de Bolsonaro até a isenção de vistos para o ingresso de norte-americanos em território nacional, simplesmente sobretaxou o aço brasileiro, com graves prejuízos para o setor. E isso após o capitão declarar seu amor a ele e deixar o Brasil de quatro. Os empresários, que financiaram a sua campanha e sustentam o seu governo, devem estar felizes, assim como todos os que estão levando ferro. Os jornalões já começam a chiar, inclusive porque pela primeira vez estão vivendo a pão e água, mas a Globo, em particular, apesar de esculachada e ameaçada de perder a concessão, continua bajulando o Presidente: de acordo com o noticiário do JN a economia está em franco crescimento. E tem ainda muita gente que, apesar de sentir na pele o desastre Bolsonaro, acredita no que diz o Bonner. Exatamente o que retratou aquele sujeito da parada de ônibus.
Traducción al español:
«No entiendo a esta gente: está nadando en la mierda y aplaudiendo por Bolsonaro». La frase se escuchó al final de 2019 en una parada de autobús, donde dos hombres hablaban sobre la situación del país, el precio absurdo de la carne vacuna, el aumento del desempleo, etc. Hubo indignación en el tono de la luz de la conversación. De hecho, esta frase representa la conducta de la población que se enfrenta a graves dificultades, pero aun así mantiene la creencia de que el capitán es el mejor presidente de la historia reciente.
De acuerdo a las últimas investigaciones de Datafolha 30% piensa que el gobierno de Bolsonaro es excelente o bueno y el 32% regular, lo que significa que al menos el 62% de la población está satisfecha con el capitán en el Gobierno. Si no son masoquistas son ciertamente alienados, fuera de la realidad viviente, tal vez sugestionado por las noticias del globo, según las cuales la economía del país está muy bien. Los hermanos Marinho están felices con la agenda neoliberal del ministro Paulo Guedes mientras pretenden agradar a Bolsonaro, quien declaró la guerra contra ellos y los amenaza, incluso con suspender la concesión de la televisión.
Después de todo ¿qué falta que suceda en el año 2020 para que haya realmente indignación y ocupación de las calles? ¿El final del salario mínimo, la bolsa-familia y la estabilidad del empleado público o un comando de voz en Internet como el MBL, que arrastró a la calle a miles de personas vestidas de amarillo para protestar por el gobierno de Dilma?
El hecho es que si no hay movilización capaz de despertar a la gente del estado de letargo, el capitán va a continuar en este año 2020 masacrando lo que resta de sus derechos y llevar al país a una dictadura. Después de todo, de acuerdo a una encuesta realizada por Datafolha, la democracia está perdiendo el apoyo de la población: el 69% en 2018 bajó a 62% en 2010 y 22% ya no le importa si vivimos en una democracia o una dictadura. Este estado de ánimo – o el desaliento – para encender la señal de advertencia de los demócratas, porque si no se hace nada la instalación de una dictadura va a terminar pasando como un hecho natural, aceptada por la mayoría sin un gemido.
No cuesta recordar que en el año que acaba de terminar Bolsonaro lanzó varios globos de ensayo sobre la posibilidad de una dictadura, incluso agitando la memoria AI-5, el acto institucional que permitió que el régimen militar cerrara el Congreso, revocara mandatos, suspendiera las garantías individuales, etc. No es ningún secreto que él no puede digerir las derrotas en el Parlamento y mucho menos las críticas o que muestra su carácter autoritario con declaraciones groseras y ataques contra la prensa.
Lo que probablemente le obliga a controlar sus impulsos dictatoriales es la falta de apoyo de la cúpula militar para una aventura de este tipo, tal vez porque ahora los tiempos han cambiado y los golpes se han vuelto más sofisticados y sutiles con el uso de la lawfare (guerra legal).
De hecho, el cambio de esta situación puede ocurrir por el propio Bolsonaro, que se convirtió en su más grande oponente, antes incluso que por la acción de las personas, ya que la oposición, además de realizar manifestaciones aisladas, también se ha revelado apática. Fuera de Lula la oposición prácticamente no existe y se ejerce ahora mucho más por los partidos descontentos que por la izquierda.
En un año en el cargo, Jair Bolsonaro logró la hazaña de convertir en enemigos a muchos de sus aliados, incluyendo la implosión del partido que le permitió ser electo, el PSL. Los parlamentarios que luchaban por él, como Alexandre Frota y Joyce Hasselmann, entre otros, son ahora feroces adversarios que pueden ofrecer una enorme contribución a su caída ya que conocen de primera mano sus «poderes». Se convirtió en enemigo de sus antiguos compañeros de uniforme, que también le ayudaron a ser elegido. Fueron inicialmente reconocidos con el nombramiento de cargos en el gobierno y luego descartados como un resultado de intrigas fomentadas por sus hijos. Este régimen implantado por él, «filhocracia» fue uno de los grandes males de su gobierno y tal vez la mayor causa de sus dolores de cabeza. Puede ser un buen padre pero mezclar la familia con el poder permite a los niños a tener más autoridad que los ministros del gobierno, lo que provocó la eliminación de aliados leales como Gustavo Bebianno, hoy su oponente.
Aunque también decepciona a muchos de sus votantes, al menos por ahora Bolsonaro no debe preocuparse por la posibilidad de impeachment (juicio político), porque el presidente de la Cámara de Diputados, Rodrigo Maia, al contrario de lo que hizo Eduardo Cunha, buscó a tranquilizar prometiendo no admitir las denuncias ya presentadas por la secretaría del Parlamento. Pero esto no es garantía de que el impedimento no suceda, porque Maia, hoy una especie de falso primer ministro que se atribuye a sí mismo algunas decisiones de la Cámara, puede cambiar de opinión en cualquier momento si mejoran las perspectivas personales para su futuro. Hasta ahora nadie puede averiguar si su llanto cuando habla de la adopción de la reforma de las pensiones, que tantos males ha traído al trabajador, es de felicidad o remordimiento. En cualquier caso, no se debe perder de vista al diputado de la DEM, que no tiene la intención de detener su escalada en el poder, lo que significa que debe continuar su estrategia relativamente libre entre la oposición y en el gobierno: ahora asume una postura de oposición y ahora gobernando como un camaleón que cambia de color de acuerdo a las conveniencias de tiempo.
Aunque hay quien alimenta la esperanza de que Bolsonaro puede cambiar este año 2020 -el optimismo exagerado que refleja la ingenuidad o la estupidez- los realistas creen que todo va a empeorar. Después de destruir los logros sociales más importantes del país, debilitar y desmantelar nuestro Estado para estimular la quema de la Amazonía, entregar el puerto espacial de Alcántara a los americanos y para transformar a Brasil en una privada de Donald Trump, parece que Bolsonaro no se detendrá ante nada.
Nunca nuestro país en toda su historia fue tan humillado como ahora, cuando el presidente de los Estados Unidos, después de obtener de Bolsonaro la exención de visado para los Estados Unidos para la entrada en territorio nacional, la sobretasa al acero brasileño con un daño grave al sector. Los empresarios, que financiaron su campaña y apoyan a su gobierno, deberían estar felices. Los grandes periódicos están comenzando a chisporrotear, no sólo porque por primera vez están viviendo del pan y del agua. De acuerdo con la noticia de la JN la economía está en auge. Sin embargo, son muchas las personas que, a pesar de sentir en la piel el desastre de Bolsonaro, cree lo que dice Bonner. Exactamente lo que retrató aquel tipo en la parada del autobús.